Já não sou tão fã do capitalismo e muito menos defensora da televisão, aí paira em minhas mãos o artigo “Ilusão de massa, o papel da mídia no esporte”. É pedir para, mais uma vez, que eu externe minha revolta sobre a alienação humana e as irritantes manipulações desse complô chamado comunicação de massa. É uma pena não poder me referir nominalmente ao autor, já que o artigo não é assinado. Talvez pelos árduos pensamentos - que até eu achei exagerados, mas vamos por partes.
Ao falar de esportes, não há mente que não pense logo em futebol e os meus recentes anos de idade, lembram-me logo de toda a dedicação que as emissoras de televisão depositam neste segmento. Levando para os pensamentos midiáticos, são vários os benefícios que as empresam obtém em cima do consumo, não conseguindo desassociar os fatores políticos, econômicos e sociais ligados a uma partida de futebol. Deixemos de olhar para o esporte como “desenvolvimento físico, competição e regras definidas”, pois, a partir do momento que descobriram a produtiva sociedade entre empresas de mídia e empresas de bens e serviços que o esporte passou a ser muito mais que isso.
Muito bem pontuado pelo autor, as mídias são atualmente as principais fontes de produção e transmissão de formas simbólicas e construção de sentidos no mundo de hoje. Com visões mais profundas, o autor tira a olhar ingênuo posto em cima de uma transmissão para dizer que a mídia não influencia apenas na exibição dos jogos, mas na produção, transformação e ressignificação do esporte como um todo. Fato que não irá se resumir apenas ao futebol, transformação, produção e ressignificação sempre foram características de bastante domínio da mídia.
As visões de esporte imposta pela mídia podem se resumir em quatro pontos principais: Melhoria econômica, mudança social, projeção de uma falsa realidade e mudanças éticas. A mídia aliena a sociedade ao dizer que o esporte pode ser a “salvação” para os menos favorecidos, onde eles poderão ser tornar grandes “fenômenos”, ficarem ricos e famosos, mesmo não tendo – em sua situação atual - uma chuteira para jogar. Estes três primeiros aspectos resumem-se a ilusão de que os garotos são príncipes, que um belo dia uma fada irá aparecer e realizar todos os seus sonhos. Eu enquanto jornalista, defendo as reportagem de superação e defendendo a classe, digo que é do exercício do jornalismo noticiar fatos, por isso, se o repórter faz uma matéria contando a história de Ronaldinho gaúcho é porque é de interesse social saber de onde ele veio e quem ele é. E se existe o boato de que em toda partida de futebol há um “olheiro” a fim de lhe contratar não foram invenções da mídia e sim política de clubes para captar novos talentos. A mídia tem um controle sobre o consumo social, mas eles sempre partem da realidade, daquilo que é verdade.
Mas a mesma mídia que defende o real e não conta histórias de contos de fadas, cria uma projeção de “falsa” realidade, não vou negar. A necessidade de consumo que se criou em cima da televisão fez com que a nossa cultura fosse influenciada por ela, mais ainda, quando se trata de pessoas com pouco discernimento para fundamentar uma opinião sobre o que consumir. São pessoas que ditam suas escolhas a partir do que a televisão diz e por isso acabam vivendo uma realidade que não é a sua. Exemplo claro são pessoas que dependem do sinal de parabólica para assistirem televisão, que por não terem sinal local se tornam tricolor paulista, sem nunca ter pisado em São Paulo. Muitas vezes, se escondem no sertão do nordeste mas sabe todos os nomes de atores da globo e torce pro Internacional.
Essa falsa realidade é sim um das “ilusões de massa”, mas pior que ela são as mudanças éticas e o consumo capitalista que o futebol proporcionou. O conjunto de benefícios ambiciosos que se criou em cima do exercício do esporte é uma das principais razões da mídia ser vista como manipuladora. Pois a mídia exibe os jogadores, criando a imagem de sucesso, tornando-o um modelo, um exemplo a ser seguido pela sociedade – o que não deixa de ser verdade, apesar de, às vezes a mídia precipitar-se na hora de definir o status de um jogador. Os patrocinadores se utilizam desta imagem de sucesso para gerar o consumo de seus produtos na sociedade, onde a marca e nome de um artista são motivo de aumento nas vendas. “Aparentemente, todos lucram, todos ficam satisfeitos. A ética esportiva alterou-se do ideal de que “o importante é competir”. Transformou-se em um novo ideal em que ‘tão importante quanto vencer é ser conhecido, ser famoso, aparecer e lucrar’”.
O que acontece é que “a televisão multiplicou a plateia de milhares, para criar uma audiência e o mercado de milhões”. O que fez com que os capitalistas enxergassem o futebol como algo lucrativo. A mídia, por ser o meio mais viável em comunicação para muitos, tornou-se peça fundamental nesse negócio. Como no Brasil as emissoras são na verdade empresas de comunicação, o capital acaba falando mais alto que o social. Só não é justo que a mídia leve toda a culpa, quando na verdade o interesse econômico é quem gere toda essa manipulação. E por mais que as reportagens sejam “encomendas pagas” como o autor trata, o telejornalismo promove sim a objetividade, por enxergar o futebol como algo de interesse social. Tem a impressão que o autor não se trata de um jornalista, talvez se fosse, saberia que existe uma grande diferença entre uma transmissão de um jogo e uma matéria no jornal. Se as partidas se adaptam aos horários da mídia, foi porque as federações assim quiseram e se nós jornalistas exploram a imagem dos jogadores é porque o povo quer. Cabe ao povo escolher e entender a exploração que é feita em cima do seu consumo.