É, tá cada vez mais difícil esconder esse sentimento, por
muito tempo, consegui controlar e até torna-lo algo tranquilo. Só que agora
tudo mudou, de nós, até o ambiente em que vivemos já não é igual à antes.
Estamos fazendo um ano e quanta coisa aconteceu, para qualquer lugar que olhe,
há um pouquinho de você, desde um comentário até a sua presença de corpo
inteiro, são doze meses de convívio contínuo, com algumas variáveis, mas sem
intervalos. Hoje, já não consigo separar, digo até que me conheces, não sei se
isso é bom ou ruim, só sei que somos íntimos e isso não dá para separar.
Construímos a nossa amizade em cima de um ambiente de
transição e rumores, sou eu me encontrando, no momento em que você se reinventa,
enquanto todos vêem além dos próprios olhos. Não sei até onde abri a cortina
para os outros começarem a dizer o que dizem, mais sei que levei muito tempo
tentando transformar todo aquele encanto em amizade. Admitindo que você não
ajuda tanto (fala de mim, mas é igual) resistir ao seu charme sempre foi uma
tarefa difícil para mim. Enquanto haviam paredes, até que deu para justificar
com outro foco, mas depois que elas ruíram, minha mente fértil quis fazer o “certo”
ruir também. Até a primeira aproximação, estive bastante certa da minha
condição. Foi tanto tempo amiga, amiga, amiga que hoje não consigo ser outra
coisa e talvez por causa de tanta confiança, hoje somos assim. Uso a palavra
assim por não saber explicar o que somos, partindo do que sinto, somos amor.
Não aquele amor de cinema ou estereotipado pelo relacionamento entre um homem e
mulher, mas aquele amor que ouve, se preocupa, cuida e sente saudades, o mesmo
amor que se sente por um irmão ou amigo de verdade. A única diferença desse
amor é o desejo, a sinergia de cheiros que atrai a admiração que transcende
qualquer limite quando estamos presentes. Mas será que tal sentimento pode ser
chamado de paixão? Será que nós nos encaixamos no estereótipo de casal?
Sinceramente, não sei.
É complicado domesticar um sentimento e depois deixar que
ele fale sozinho, principalmente quando sabemos de tudo e nos apegamos a pessoa.
É exatamente esse saber que faz com que a ideia de casal seja totalmente
descartada, depois de tudo, sei que precisas da liberdade. Foram muitos anos de
asas cortadas e sentimentos frustrados para em questão de meses se dedicar
exclusivamente a outra pessoa. Me conheço o suficiente para saber que se eu
deixar me levar, o sentimento de posse vai aflorar e sei que depois de 10 anos
de altos e baixos, relacionar-se costuma ser algo complicado. Ainda não passei
por frustrações suficientes para me fechar ao amor, pelo contrário, quero mais
é transformar todas elas em triunfo, quero poder pôr em prática todas as lições
aprendidas nesses 10 anos de relacionamentos sérios e não tão sérios assim. Só
tenho um trauma e milhões de lições, milhões de sentimentos dispostos a ser
depositados em um único coração, que apenas faça por onde merecê-lo. Se eu
souber o que é amor, já amei e desamei muitas vezes, foram muitos contos de
fadas sem um fim consistente, o que quero agora é um amor de verdade, uma
história real, sem data para “happy end”. Já passei por todo aquele período de
conhecer a si e entender o mundo, quero agora me sentir parte dele e uma das
rodas que o movimenta, meu tempo de ser carregada ou depender dos outros já
deu.