Cidade Estuário

Foram dias olhando para o lado, cuidando dos outros, atropelando até os meus próprios passos, fazendo tudo o que Stuart Levine disse para não fazer. Não chegou a ser um mês, mas deu para renascer, muita coisa mudou, foram coisas tão expressivas que dá para dizer que mais uma vez eu nasci. Encontro-me em uma nova fase, totalmente diferente daquela que planejei, fico até frustrada quando vejo mais um mês passar e nada do que eu queria está feito. Não que eu esteja parada no tempo, afinal, nessa vida nada para. Mesmo que você não queira ou não perceba, as coisas sempre evoluem, as vezes no caminho contrário ao curso desejado, mas nada estagna – pelo menos comigo.

No curso que eu desejava nada aconteceu, o que era segundo plano, tornou-se primeiro e ainda de forma inusitada. Deu para perceber que a vida é quem constrói as curvas, e não você. Meu caminho era reto e eu tive que dobrar a esquerda, minha estrada agora é a favor do sol, onde já não vejo a mesma vegetação, mas as placas me dizem ser essa a direção. Ando com o sentimento que essa estrada irá me levar àquilo que sempre desejei, não achei que essa janela fosse abrir agora, mas parece que chegou a hora. Como não sou de perder a direção, vou seguindo este caminho, tentando alcançar a janela que inconscientemente desejei.

Falo inconsciente por que nunca coloquei em linhas gerais essa minha vontade, desde quando decidi a minha profissão, mostrei sinais de que penderia para esses lados, mas nunca foquei os meus pensamentos nele. Cultura para mim sempre fez parte da minha diversão, desde o momento em que construí a minha personalidade que direciono o meu consumo ao caminho contrário das grandes massas. Ainda sem entender de fato o que vem a ser cultura ou como ela funciona, me identifico com esses caminhos mais “alternativos”. Entretanto, não estava em meus planos, mergulhar por esses mares agora, ainda é preciso manter os pés no chão, estou aprendendo a andar e não posso mergulhar assim.

Mas, já que estou nesse caminho, vou tentando aprender a nadar em terra firme, precocemente eu acho, vou atrás de nadadeira para não me afogar. Sinto-me muito verde, parecendo criança desacostumada com piscina funda, que sempre precisa de alguém por perto lhe dando instruções. A minha felicidade é que tenho um instrutor legal, alguém que aparenta grande potencial dentro desse mar e disposto a me ensinar.

Disciplina são os botes que impedem a onda de me levar, é preciso estar atenta para não deixar tudo se estragar. Esses caminhos são tão preciosos para mim que faço de tudo para não fazer besteira, por isso que me sinto imatura. Talvez fosse necessário me reservar aos livros primeiro, para em seguida me lançar nesse mar. Estou em uma estrada sem mapa, seguindo apenas as placas que me surgem à vista e ando com medo de aparecem buracos ou becos sem saída. Nos outros caminhos eu não me preocupava tanto, era como se eu fosse uma visitante, meus erros ou acertos ficariam ali. Nesse caso não, estou lidando com algo que quero para mim, qualquer acidente deixará marcas e minhas vivências me fazem redobrar a atenção.