Manipulação, não há outra palavra melhor para definir o comportamento de George W. Bush depois que assistimos Fahrenheit 9/11. Independe do sentimento de perca do seu amigo, da sua profissão e do seu patriotismo, Michel Moore precisava documentar a audácia do presidente Bush. Após ter criticado Roger Smith, presidente da General Motors no filme Roger & Me, ter denunciado o trabalho infantil da Nike em The Big one, quem é George W. Bush para escapar das críticas do cineasta, documentarista e escritor americano? Fahrenheit 9/11 talvez seja exagerado, até manipulador, para que seja criada uma aversão ao Presidente Bush, porém, mais manipulador do que o comportamento do presidente, não há.
Sei que não há nenhum manual ensinando como ser presidente, tenho total noção de que eu não saberia administrar um país, mas tenho o bom senso de que se eu recebo a informação dizendo “Bin Laden determinado a atacar o país” e depois de um tempo ser informado que “ o País está sobre ataque” eu com certeza não iria ler “My pet goat” para as criancinhas em uma escola da Flórida. E foi exatamente esse o comportamento de Bush, e foi essa sua atitude ‘blasê’ que deu margem para a justificativa de manipulação. É como se ele soubesse tudo que ia acontecer e fosse apenas o ‘laranja’ de todo um esquema político saudita. É muito estreita a relação da família Bush e o povo do Oriente Médio, são muitas ligações muito bem detalhadas e justificadas no documentário, o que nos deixa duas vezes admirados - uma pela competência de Michel Moore em argumentar muito bem as suas denúncias e segundo pela capacidade do Presidente de uma das maiores potências do mundo em fazer as coisas que fez.
Fahrenheit 9/11 revela os bastidores de tudo que foi escondido pela imagem de que, Bush estava honrando os estragos feitos pelo ataque ao maior centro financeiro e militar dos Estados Unidos. Com o argumento que buscava os foragidos da Al-Queda e Osama Bin Laden causando terror em cidades já não muito estruturadas e civilizadas do Oriente Médio. Com esse “patriotismo” Bush tomou conta do Gasoduto Afegão, provocou uma verdade Guerra ao Iraque e ainda não satisfeito declarou guerra ao seu próprio povo quando instalou o terro nos Estados Unidos com argumentos sem fundamentos de Armas Nucleares e terrorismo.
Através de depoimentos estrategicamente muito bem selecionados, Michel Moore denuncia o poder do povo saudita em solo americano, onde mesmo que você não tenha nenhuma afeição com a sociedade americana você irá se revoltar. O documentário trás dados que chegam a justificar o comportamento das autoridades diante do Ataque ao World Trade Center e a atitude de retirar todos os Sauditas do país, como se fossem naturalmente Norte-Americanos. Claro, “eles são donos de boa parte da América”, nós não saberíamos disso nunca, se não houvesse uma pessoa como Michel Moore que - talvez inspirado em uma dor particular - soube muito bem desdenhar um homem que durante anos não se preocupou com as mortes e a dor das famílias que sofreram em nome de uma ambição egoísta e manipuladora.
Um detalhe do documentário é a maneira como ele foi montado - talvez seja mais pelo choque que as informações causam – Mas ele não se torna cansativo, considerado extenso para a duração da maioria dos filmes, a admiração com os absurdos são tantas, que não dá para cansar. E aos adeptos de uma música mais independente, a trilha incidental causa certo conforto, um interesse maior. E ainda aos interessados, a admiração por Michel Moore aumenta quando a gente sabe que ele já trabalhou produzindo clips para o Rage Again the Machine e Systen Of a down.
Uma informação que poderia ser facilmente descartada torna o documentário ainda mais interessante, quando Michel Moore mostra as consequências da guerra ele narra algo que só quem serviu as forças armadas e sobreviveu poderia nos dizer. Existe o hábito que durante os ataques os soldados ouvirem músicas pelos fones de comunicação, só que não é qualquer música, são músicas que aguçam a vontade de matar dos soldados. No documentário não dá para entender a letra (principalmente se o seu inglês não for muito bom), mas se você parar para escutar elas irão soar como mantra na sua cabeça: “Let the bodies hit the floor” ou “Burn motherfucker, burn”. É como se tudo fosse um jogo de vídeo game, como se tudo não passasse de um “GTA” do mundo real.
Fahrenheit 9/11 é um documentário para todos assistirem, mesmo sabendo que não irá lhe influenciar diretamente, mas que com certeza irá despertar em você uma reflexão. Sobre como um homem foi capaz de governar um país para si mesmo, sem perceber que se tratava de uma democracia onde a função de todo presidente é trazer o bem para a sua nação e não manipular a todos para satisfazer estrangeiros. E após assistir o documentário você concordará com uma música que Pink gravou “Dear Mr. Presidente” quando ela pergunta a George W Bush como ele consegue dormir quando o resto do mundo morrer, ou como ele dorme sabendo que uma mãe não teve a chance de se despedir do seu filho.